Por que uno Filosofia e Estratégia para ajudar a criar futuros desejáveis
- Cristiam B. Oliveira
- 19 de ago.
- 6 min de leitura

O que me move
Minha trajetória profissional sempre esteve marcada por duas forças: o desejo de compreender profundamente o mundo e a vontade de agir para transformá-lo. A Filosofia me deu as perguntas. A Estratégia, as ferramentas para mover as respostas.Essa integração nasceu de uma inquietação que me acompanha desde o mestrado, quando escrevi a dissertação O padrão ético satisfatório de um negócio. A pergunta que guiou aquela pesquisa continua a orientar meu trabalho hoje: É possível conduzir um negócio que seja moralmente satisfatório?Investigar essa questão me levou a explorar o papel da ética nas decisões empresariais, o impacto do comércio como forma de criar valor compartilhado e a necessidade de repensar o sucesso para além do lucro.
Percebi que negócios não são apenas máquinas de gerar resultados: são espaços de expressão de valores, crenças e visões de mundo.Vivemos um tempo em que líderes e organizações enfrentam desafios cada vez mais complexos: mercados instáveis, mudanças tecnológicas aceleradas, pressões sociais e ambientais crescentes. Nesse cenário, eficiência e agilidade não são mais suficientes.
O que realmente diferencia uma liderança é a capacidade de agir com sentido, de enxergar além do presente e de tomar decisões que estejam alinhadas ao futuro que deseja criar.
Por isso, uno Filosofia e Estratégia na minha atuação: para ajudar líderes e negócios a imaginar futuros desejáveis — e a agir agora para torná-los reais. Não apenas respondendo ao que o mundo exige hoje, mas moldando, com intenção e responsabilidade, o mundo que queremos habitar amanhã.
Filosofia como prática de futuro
A Filosofia sempre se ocupou de duas perguntas fundamentais: o que é e o que deve ser. A primeira descreve o presente; a segunda nos desafia a imaginar o que ainda não existe — e a decidir se vale a pena trazê-lo à vida.
Esse olhar para o deve ser é essencial para qualquer líder que queira construir mais do que resultados imediatos. Ele abre espaço para pensar o impacto das nossas ações no longo prazo e para questionar se o caminho que estamos seguindo realmente nos leva a um futuro que desejamos habitar.
Ernst Bloch chamou isso de princípio esperança: a força que nos move para o que ainda não é, mas pode vir a ser. Para Bloch, todo ser humano carrega imagens e sonhos de futuro — e é essa capacidade de imaginar que impulsiona a transformação.
Em liderança, isso significa não se limitar ao que já está dado, mas inspirar pessoas com uma visão que ainda não foi alcançada.Hannah Arendt acrescenta que agir é iniciar algo novo. Para ela, o ato de liderar é assumir a responsabilidade de abrir caminhos que não existiam antes.
Na prática, isso significa criar espaço para inovação, romper padrões engessados e permitir que o novo surja — mesmo diante da incerteza.Já Martin Heidegger descreve o ser humano como um ser-em-projeto — alguém que vive sempre em direção a um futuro, mesmo quando não percebe.
Em gestão, essa ideia nos lembra que todas as nossas decisões estão moldando o amanhã, quer tenhamos consciência disso ou não.
A Filosofia, portanto, nos oferece duas habilidades decisivas para liderar hoje:
1. Imaginar futuros que valem a pena.
2. Criticar futuros possíveis, mas indesejáveis — evitando cair em automatismos ou seguir cegamente tendências apenas porque parecem inevitáveis.
Em um mundo acelerado, parar para refletir antes de agir é um ato de liderança. É nesse intervalo que nasce a clareza sobre o que vale a pena construir — e sobre o que deve ser deixado para trás.
Ética: por que fazemos o que fazemos
Toda decisão estratégica é, no fundo, uma escolha ética. Mesmo quando não falamos de ética, ela está lá — nas prioridades que definimos, nas metas que escolhemos e nas renúncias que aceitamos.
A pergunta central que une Filosofia e Estratégia é simples e poderosa: O que vale a pena fazer?
Essa pergunta exige respostas complexas. Ela nos obriga a pensar não só em lucros ou eficiência, mas no impacto que nossas ações têm sobre pessoas, comunidades e ecossistemas. Obriga a considerar quem ganha, quem perde e em que condições.
Historicamente, o comércio nasceu como um ato de confiança e reciprocidade. Trocar não era apenas obter o que faltava, mas também criar vínculo. Negócios eram (e podem voltar a ser) formas de expressar cuidado, gerar prosperidade mútua e fortalecer comunidades.
Em outras palavras: fazer negócios é fazer parte de uma rede de valor — e o valor não é só monetário.No entanto, quando a lógica utilitarista domina, a ética se reduz a cálculos de custo e benefício. É assim que surgem decisões que maximizam ganhos imediatos, mas corroem relações e reputações no longo prazo.
Por exemplo: cortar custos de forma que prejudica a qualidade ou ignora impactos sociais pode gerar números positivos agora, mas destrói valor no futuro.
A Ética propõe outro caminho: - Criar valor que seja percebido como justo por todos os envolvidos. - Distribuir benefícios de forma equilibrada. - Sustentar o negócio com base na confiança, e não apenas na eficiência.
Negócios guiados com Ética não veem clientes, colaboradores ou parceiros como meios para um fim, mas como parte essencial do fim em si. Isso transforma a relação de mercado em um compromisso mútuo.
Quando líderes e organizações adotam essa perspectiva, suas estratégias deixam de ser reações às pressões do curto prazo e passam a ser expressões conscientes do futuro que desejam criar.
É aqui que Filosofia e Estratégia se encontram: pensar profundamente sobre o que fazemos e agir com coragem para alinhar nossas escolhas aos valores que queremos afirmar.
Unindo os dois mundos: Filosofia e Estratégia na prática
Na minha atuação como consultor e educador, percebi que a verdadeira transformação acontece quando a reflexão filosófica encontra a ação estratégica. Um sem o outro é incompleto: pensamento sem ação vira teoria estéril; ação sem pensamento se perde na urgência do dia a dia.
Nos projetos com líderes e organizações, costumo começar com uma pergunta simples, mas poderosa:
Qual é o futuro que vocês desejam criar?
A partir dessa visão, trabalhamos para identificar:
- Que escolhas precisam ser feitas hoje para que esse futuro seja possível?
- Que recursos e competências precisam ser mobilizados?
- Que práticas e mentalidades precisam mudar?
- O que deve ser desaprendido e reconstruído?
Essa abordagem desloca a liderança do piloto automático e da simples reação às pressões externas. Abre espaço para decisões intencionais, alinhadas não apenas com demandas de mercado, mas com um propósito claro e valores sólidos.
É nesse ponto que entram duas ferramentas-chave: Foresight e Business Design.
O Foresight expande a capacidade de imaginar: permite projetar futuros desejáveis mesmo quando as tecnologias, modelos de negócio ou comportamentos necessários ainda não existem. É uma lente que amplia possibilidades e ajuda a enxergar além das tendências óbvias.
O Business Design transforma essas visões em experimentos concretos: protótipos, pilotos, hipóteses testadas em ciclos rápidos. Ele traz para o presente o que antes estava apenas no campo da imaginação.
Essa combinação — Filosofia como bússola, Estratégia como ponte, Foresight como horizonte e Business Design como laboratório — cria um ciclo virtuoso: imaginar, prototipar, aprender e ajustar.
Quando líderes e organizações operam assim, conseguem algo raro: manter a ambição de transformar o futuro sem perder o pé na realidade. É dessa forma que inovações relevantes nascem, que equipes se engajam e que negócios constroem não só resultados, mas também legado.
Filosofar é planejar com profundidade
Unir Filosofia e Estratégia não é um exercício acadêmico nem um recurso retórico. É reconhecer que pensamento e ação não são opostos, mas partes de um mesmo movimento.
Pensar sem agir é permanecer na abstração. Agir sem pensar é correr o risco de se perder na urgência e no improviso.
Filosofar, neste contexto, é ampliar o horizonte, fazer as perguntas que revelam o que realmente importa e identificar os caminhos que podem nos levar até lá.
Planejar, por sua vez, é transformar essas respostas em direção clara, escolhas consistentes e ações coerentes.
Essa é, para mim, a essência da liderança consciente: imaginar futuros desejáveis e assumir a responsabilidade de construí-los — não como espectadores, mas como autores.
Minha dissertação de mestrado, O padrão ético satisfatório de um negócio, foi o ponto de partida dessa jornada. Nela, busquei compreender como a ética pode ser o alicerce de decisões empresariais que criam valor justo e duradouro. Hoje, levo esse fundamento para o centro da estratégia, integrando-o com ferramentas como o Foresight e o Business Design para que ideias ganhem forma e propósito se transforme em ação.
O futuro não é inevitável. Ele é moldado pelas decisões que tomamos hoje. E, se queremos que ele seja diferente, precisamos pensar diferente — e agir com a mesma profundidade com que pensamos.
Quero ouvir a sua visão: como você conecta propósito e estratégia no seu dia a dia?
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